Amigo Mala,
Chegamos à Irlanda do Norte de ônibus, após nossa maravilhosa visita a Dublin. Adiantamos aos leitores, que não estávamos com grandes expectativas, mas tivemos uma grata surpresa! E que surpresa!
Como se trata de um país pouco conhecido dos brasileiros, vamos alinhavar um breve resumo. A Irlanda do Norte é um país pequeno e possui um pouco mais de 1,8 milhão de habitantes. Ele compõe o Reino Unido, e é o único país que fica fora da ilha Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales). Na ilha Esmeralda estão encravadas: a Irlanda ( independente e não vinculada ao Reino Unido), cuja a capital é Dublin, e a Irlanda do Norte, da qual Belfast é a capital.
Com um olhar voltado para o passado, mas precisamente para o Século XIII, é possível perceber que tudo começou quando o Rei Henrique II teve a brilhante ideia de unir toda ilha da Irlanda ao Reino Unido. Os Irlandeses não gostaram nada dessa história, e lutaram bravamente durante muito tempo. O Rei incentivou , através das excelentes ofertas de trabalho, a migração de Escoceses, Ingleses e Galeses para Irlanda.
Contudo, esqueceu-se ele, que os Irlandeses eram católicos, e ao promover essa migração, provocou a perigosa mistura de católicos e protestantes. Para agravar a situação, o norte da Ilha, com sua maioria protestante, industrializou-se e, por consequência, se desenvolveu mais que a região sul, cuja a atividade era eminentemente agrícola.
Depois de um grande confronto entre as duas regiões, “chegou-se a conclusão” que seria melhor separar a ilha, de um lado a Irlanda do Norte, que ainda continuaria fazendo parte do Reino Unido, mas de forma autônoma, com o seu próprio parlamento; enquanto que a Irlanda, seria um país independente.
Surgiu um grave e longo conflito entre católicos e nacionalistas (IRA) contra os protestantes e unionistas.
Apesar de toda polarização até hoje existente, desde 1990 não havia mais conflitos entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. Contudo, em dezembro de 2012 eles ressurgiram por causa da decisão de não mais hastear a bandeira britânica todos os dias. Essa decisão, por óbvio, é apoiada pelos católicos e abominada pelos protestantes, orgulhosos de fazerem parte do Reino Unido.
A rivalidade entre católicos e protestante resta corporificada nos muros que separam os bairros em Belfast. Isso mesmo: há muros! Surreal, não é? Em nossa viagem, constatamos que não se trata de rivalidade religiosa, e sim política. Os católicos defendem e almejam a independência, e os protestantes a permanência da Irlanda do Norte como membro do Reino Unido. Há uma promessa de que os muros serão demolidos até 2023. Entretanto, pelo que vimos e sentimos, faz-se imprescindível uma pactuação sobre tolerância religiosa e política.
Um ponto interessante nesse viés, é que a região central da cidade é neutra, ou seja, lá convivem harmoniosamente católicos e protestantes!
Diante desse vasto conteúdo histórico, consideramos os muros a principal atração da cidade. Para entendê-los, você precisa contratar um tour político, ou tour dos muros, como os denominam algumas empresas. Há os famosos tours de táxi. Esses táxis não são comuns, que simplesmente pegamos na rua. São empresas especializadas, que utilizam um típico táxi inglês durante o passeio. Há muitas empresas, dentre as quais a Mural Tour Belfast.
No total o tour dura um pouco menos de 2 horas. Nós optamos por contratar uma guia privada em espanhol, a Lorraine (belfast.milly.tours@hotmail.co.uk). Valeu muito à pena, apesar de o espanhol dela não ser dos mais fáceis de entender. Ela foi paciente e repetiu quantas vezes foram necessárias.
Os muros do lado católico possuem pinturas que configuram verdadeira aula de história, pois relatam as lutas pela independência e seus heróis. Sentimos que se trata de alimento e incentivo nacionalista.
Um ponto relevante a ser destacado é que no bairro católico há bandeiras da Irlanda, enquanto no protestante do Reino Unido. Em vários locais se percebe o orgulho dos residentes do bairro protestante de a Irlanda do Norte compor o Reino Unido. Além das bandeiras, no bairro protestante há vários painéis e fotos retratando a família real britânica.